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Ainda, ANA TERRA
23 de outubro de 2013

Rossana Ghessa, a ANA TERRA

Quando fui convidada para filmar ANA  TERRA , eu sabia que ia ser muito importante , não só pela personagem maravilhosa que é, mas porque eu fui envolvida desde a adaptação do romance até a produção e as filmagens propriamente ditas levou  mais ou menos um ano, depois do roteiro pronto, fomos a Porto Alegre,  Durval Garcia o produtor, diretor e autor da adaptação do  romance, me levou para me apresentar  e conversar  com Erico Verissimo, fiquei emocionada  e  ao  mesmo tempo  apreensiva, com medo de não ser aprovada pelo  criador.

Depois de apresentados  e acomodados  para conversar,  ele  ficou  algum  tampo  me olhando. Eu ainda estava com os cabelos loiros da Bebel  que  acabara de  rodar, então me apressei  em dizer.: "..não se preocupe. Vou  pintar  os cabelos". Ele  me  respondeu  gentilmente: "tenho  certeza  que  loira  ou morena  fará uma  bela  Ana". Palavras  mágicas  que  marcaram para   sempre  a minha   carreira.

Fomos  para Cruz  Alta  escolher  a  locação. Feito  isso , regressamos   para  Porto  Alegre  para escolher  o resto  do  elenco. Exceção de mim  e  o Geraldo  Del  Rey,  que interpreta  o  Pedro  missioneiro, todo o  resto   do elenco  foi  local

Cruz Alta é uma pequena cidade distante de Porto Alegre cerca de 200 km. O único  Hotel da  cidade  era  todo de madeira  com dois andares  e  vários quartos. Eu não lembro exatamente  quantos,  só  lembro que havia um  único banheiro. Resultando que,  no final  do dia, era  uma fila enorme para o banho e de manhã, igualmente para outras  coisas. Em seguida,  no salão térreo,  fazíamos a primeira refeição, que era sempre  muito variada,  como só os gaúchos sabem  servir.Todo  mundo bem alimentado, saímos  numa  fila de carros rumo a locação. A fazenda  da  família Terra, que ficava a 30km  numa estrada de terra,  que quando chovia ficavamos  atolados, e todo  mundo tinha que descer  para empurrar  os carros,  uma verdadeira  aventura. Eu estava  tão encantada e envolvida  num clima de amor e magia, apaixonada pelo diretor DURVAL GARCIA. Era um misto de amor com admiração e confiança no homem tão encantador, integro, inteligente, gentil...parecia um maestro regendo uma orquestra,  e eu um Stradivarius  solando uma  sinfonia composta   especialmente para mim.

Durante toda a minha vida, sempre me comportei de acordo com os ensinamentos recebidos dos meus pais, que eram pessoas muito simples, porem com uma postura perante a vida que era absolutamente admirável, meu pai era um homem trabalhador,  tinha uma alegria de viver que contagiava, estava sempre cantando, e eu herdei  isso dele, também estou sempre cantando, talvez porque a musica me ajude a expressar todos os meu sentimento, tanto alegres como os tristes, a musica e divina, e a linguagem dos anjos. Tinha me despedido do meu pai  na porta do elevador quando eu fora embora do hospital  onde  ele  estava internado, no INCA ( durante um mês + ou – eu fui a alegria da ala onde ele se encontrava, tive permissão  para visita-lo todos os dia de manhã, claro que para infringir as regras de uma visita semanal. O fato de ser famosa foi fundamental. Todos os pacientes esperavam por mim com ansiedade, pois  eu chegava brincando e cantando,  levando  alegria, me lembro do comentário  de  um velhinho magrinho e sorridente: “ quando vc chega e como um raio de sol entrado neste andar” foi com um beijo na testa e um sorriso nos lábio que meu pai se despediu. No dia seguinte, eu viajei para Cruz Alta para as filmagens  de Ana Terra. Já fazia semanas que estavamos filmando exaustivamente, o diretor de produção  batia na porta acordando todos as 5h da madrugada, pois a locação era longe e tínhamos que chegar bem cedo para aproveitar o sol da manhã.

Por causa das  dificuldades  de  comunicação,  não  tinha  noticias de  casa há bastante tempo. Dependia  do  radio amador  pra  ligar  e com o  trabalho a todo  vapor, sobrava pouco tempo. Numa  manhã  fria, ainda escuro ,  bateram  a minha  porta, pensei que fosse o  diretor  de  produção  para  me  acordar, mas, quando  abri  a porta,  o meu pai  estava  diante  de mim, estava só com a calça  azul  claro  do  hospital  e muito  suado,  como se  tivesse  feito  um grande  esforço  físico, perguntei  o  que  estava  fazendo  ai, e ele  através  de  gestos  me fez  entender  que  não queria  mais  ficar  no  hospital,  respondi  ... ok  vai pra  casa, logo  estarei  de  volta,  ele não respondeu  me abraçou com  força e em seguida  virou de costas e desapareceu.

Fiquei  desesperada  sem  entender  nada. Senti  também uma  fraqueza  e cai  sentada  no chão  chorando   convulsivamente  e  tremendo de  frio, pois  a  minha  roupa  estava  molhado  do suor  do  meu  pai. Foi nesse estado  deplorável   que  o  Durval  Garcia  ( diretor do filme) me  encontrou. Contei  o que  tinha  acontecido,  sentando-me   na  cama, disse  que  por estar  preocupada  com o  estado  de  saúde  do  meu  pai,  tinha  tido um pesadelo. Quinze dias  depois,  chegaram  duas  cartas  endereçadas  ao  Durval. Após  abrir  e  ler uma  delas,  ele  me  entregou  dizendo  que não  tinha  o  direito de  esconder  de mim.

A  carta era  da minha  irmã e contava  que  papai havia  falecido  há 15  dias e  que  não tivera  como  me avisar. Se ele  entendesse  que a noticia  podia  prejudicar  o meu  desempenho,  que  não  contasse  nada,  ela  me  contaria  quando  eu regressasse  ao  Rio.

 

Rossana Ghessa

Atriz e produtora de Cinema e teatro

Contato: focuslife@playtac.com

 http://rossanaghessa.blogspot.com.br/2013/07/luciola-e-o-palacio.html

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