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Confiança
16 de fevereiro de 2015

"Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão."

Quincas Borba, Machado de Assis.

 

Nas bocas alheias as promessas conjugadas formam um arcabouço de contextos e textos que atravessam a vida como um rio despreocupado com o curso. Águas e palavras que comandam os sentimentos trazendo consequências de incontáveis ordens. Revisões e decisões que capiteam destinos sejam eles partilhados por escolhas ou encontros sem programação.

Através de algumas palavras a vida reorganiza o seu sentido. O curso do tempo em algumas oportunidades ganha os esteios de vitória. Noutras resta o sujeito derrotado pelas suas infundadas convicções. A experiência vai superando as expectativas. O crente o descrente bebem da mesma fonte num dado momento.  

Canibalescamente as crenças são consumidas. A fidelidade não prolifera em terrenos de desconfiança. O espetáculo diário que o poente resta turvo entre as lagrimas. A maquiagem e a armadura perdem a beleza. Diante de um espelho daninho as coragens e os temores são trazidos à baila. O magnetismo soberano dos sonhos ancora as condutas de continuidade e desistência.

Nada há na jornada humana que não se perfaça cabível uma nobre escolha. Desistir pode ser um ato de coragem e permanecer adstrito ao temor à prova de uma covardia. O reversível e o irreversível são partículas. O universo de hipóteses corrobora teses ou as desclassifica. O sujeito transita entre julgador e artífice de suas perdas e de seus ganhos.

Coração e cérebro por vezes homogeneízam-se. A confiança tem duas extremidades – uma na gloria e outra no abismo. A sanguinidade de cada indivíduo elencará o fervilhar das veias ou a calma das boas e afáveis soluções. A extremidade e a fluidez concentram o panorama entre sonho e as realizações.

Prosperar nem sempre traz consigo a paz necessária das reflexões. O coração é o pulso incansável das pessoas apegadas aos sonhos. Magoas e pássaros cruzam os horizontes particulares. Porém nenhum e tampouco o outro produz nos espíritos aflitos o mesmo efeito. Partícula por partícula completamos o jogo interminável da verdade e da mentira.

Há enganos previsíveis enquanto outros são supervenientes. Não há como escapar desse emudecimento. A seiva psíquica de cada criatura segue o caminho dos vendavais. Por vezes um bom vento para dar fim às poeiras do passado. Noutras os mais corajosos buscam seu chapéu carregado pelo vento ao sabor de novos amanheceres.

Os nervos, os músculos, o sangue a fé. Longas são as estradas que conduzem ao tumulo. Muito tênues e proximais as opções que levam para os braços da morte. Quem não se propõe ao sacrifício já traz em seu peito o epitáfio, mas aguarda o momento para esquecer o corpo deitado no descanso nem sempre sublime de quem preferiu a paz às aventuras.

No esteio das lições de Èça de Queiroz: ”São longas as estradas, curta é a piedade dos homens”. Uma alma pungente conhece o medo e se aprimora nos fracassos. As sombras das magoas alheias refletem mentiras, pouco zelo e uma pitada de infâmia. Uma coisa certa e nem sempre recordável. Cada prisioneiro só recebe a pena uma vez e ainda assim pelo seu delito...

Por celas invisíveis alguns seres transitam sem percepção. E outros confiantes na graça seguem ajoelhados e de cabeça baixa como se essa atitude assegurasse uma harmonia aprazível e sem nenhuma garantia. A aspereza da existência traz ensinamentos que nem todos os viajantes são capazes de entender. Traduções e textos alheios nem sempre são verossímeis.

A crise centrada na (des)confiança alheia não recai entre os meus dedos já calejados. Meu corpo e minha alma seguem a cartilha que tem por penúltimo capitulo a senilidade e na conclusão a morte. As paginas anteriores foram intensamente escritas por sentimentos e laços instáveis. Alguns com uma finitude nem digna de nota. O aprendizado é mais valioso do que os temores.

A resposta mística das certezas deve residir nas necrópoles. Meus pês não cruzam ainda esse território. As crenças e descrenças transitam no meu peito. No mesmo esteio que prefiro não confiar cegamente nos viajantes que assim como eu não temem o deserto. O ladrão tolo rouba nossas mãos. O biltre sagaz nos retira a alma. Na roleta do tempo sou econômica nas apostas.

Confio exclusivamente no meu sangue, pois através dele toda a funcionalidade dos meus órgãos é garantida. Falhar significa permanecer estanque ou morrer. A funcionalidade das minhas hemácias e hemoglobinas pode ser questionada, pois um vírus ou uma bactéria podem abalar todo o sistema imunológico e afetar todo o andamento dos meus melhores e piores planos.

Do que se pode concluir – com uma certa infantilidade – por vezes não podemos confiar em nós mesmos.  Não há receita para a felicidade. No entanto aprimorar a seleção das pessoas que merecem a nossa confiança assegurará uma diminuição significativa de sofrimentos e tempo perdido. Não é preciso dar grandes abraços sempre. Por vezes estender a mão bastará...

 

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

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