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Histórias tristes e engraçadas
21 de novembro de 2013

Continuação de "Ainda Ana Terra", As filmagens continuaram normalmente, claro que havia uma grande solidariedade por parte de toda a equipe para com a minha dor,  mas na verdade....eu ainda não tinha caído na real, pois tudo aconteceu longe, talvez nem fosse verdade..., talvez  fosse só um pesadelo, mas a tristeza profunda dentro da minha alma era muito real. Meu pai tinha partido para sempre.

Varias coisas estranhas aconteceram durante as filmagens: Nas cenas  que  os  irmãos da Ana e o Pai tinham que matar uma vaca para charquear a carne, o pobre do animal foi morto de verdade,  uma cena que chamais esquecerei.

 

 

Como sempre, chegamos muito cedo ao Set de filmagem. Começaram  a  preparar  tudo enquanto o Durval atento, orientava  onde queria cada coisa. Eu estava pronta e aguardava sentada toda enrolada num ponche, pois fazia um frio terrível que era o famoso vento minuano e estava implacável naquela manhã,  O Durval mandou trazer a vaca cor de mel para o centro da cena que foi amarrada num poste, enquanto ele, de costas para o animal, dava instruções para os atores. Tudo transcorria na mais perfeita normalidade. Lembro me que olhei para a vaca, estava com um olhar de desespero como se adivinhasse o que ia acontecer, como se entendesse o que estava dizendo o diretor. Foi uma coisa tão rápida, que quando me dei conta .estava gritando desesperada e a vaca investiu contra o Durval que,  de costas e desprevenido, caiu. Como ele estava com uma calça de cor  caqui, não dava  para distinguir quem era quem e  no chão havia um bolo só. Felizmente, os chifres eram  curvos  para traz e não feriu o Durval. Quando  se  refez  do  susto, tomou  um chimarrão para acalmar e o trabalho continuou.

 

O diretor gritou: Ação....e o ator veio com uma faca enorme na mão, se aproximou da vaca e cravou a faca na jugular da infeliz e conforme o  coração batia, o sangue saia em jatos enormes, e antes mesmo que a pobre animal estivesse morta, os vaqueiros já estavam em cima dele para tirar o couro.

Fiquei tão traumatizada que, dias depois,  tínhamos  que  fazer a cena  do estupro e eu já estava nervosa.  Alguns atores que  participavam da cena não eram profissionais e eu tinha medo que me  machucassem. Dos  vinte  atores que  participavam da cena, quando o chefe  dos  bandoleiros dá a ordem, cinco  deles  imobilizam a Ana, um segurando  a cabeça  e  colocando  uma  faca  no  pescoço e os  outros dois  seguraram os braços em forma de cruz, e outros dois cada um segurava uma perna quando outro ainda  se  aproxima  com uma  grande  faca  pelo  meio  das  pernas para cortar  a ceroulas  e assim abrir caminho para o chefe violentar  a Ana. Quando  eu  vi  ele  se  aproximando, com  aquela  faca  em punho, a única  coisa que eu pensei foi na  vaca  sendo assassinada. Eu não me recordo exatamente  como, só  sei que  consegui  soltar  a  perna direita e tacar  um tremendo chute na cara do rapaz, que  foi  parar  longe.

Outros dois acidentes, no  mínimo estranhos  aconteceram:  um foi na cena do enforcamento. A  cena  era  longa. A Ana  acorda  do  desmaio  depois  de ser currada, olha pra casa  em  chamas,  e,  então,  se  lembra  do  filho e  se  arrasta  ferida,  toda  rasgada  e  passa  pelo  irmão  que  está  imóvel pendurado  na  árvore. Eu lembro  ter  olhado para  ele  e  pensar: "  caramba  como está   interpretando   bem,  está  até  com a boca  roxa". Mas,  não  era  nada  disso,  o  cara  que  preparou  o  ator  para  a  cena  se  esqueceu  de  deixar  folga  na  cinta  que  prendia a corda do pescoço. Conclusão:  com  o peso  do  corpo  pendurado, o  pobre  quase morre  de  verdade e  o coitado  não  pode  nem  pedir  socorro, pois estava com as mãos  e  os pés  amarrados  de  modo que  não  podia  fazer  nem  sinais.

O  outro  acidente  aconteceu  diretamente comigo: eu tinha que caminhar até um lampião e acender  enquanto  falava. Mas  quando  me aproximei  da chama do lampião, o diretor gritou: Corta!. Parei e esperei para saber o que tinha feito de  errado. Mas, não era  nada  comigo. Ele havia  sentido um cheiro estranho então mandou  verificar o lampião e..surpresa: alguém trocou querosene  por  gasolina. Fico arrepiada  só  de pensar  no estrago  que iria  ser. Já imaginaram?  Aquela  coisa  ia  explodir  no  meu  rosto e  não ia  ter plástica que consertasse. Felizmente, tudo  acabou  bem. O que me faz  acreditar  que  num  ambiente  impregnado  de  amor,  até os astros conspiram a favor. E,  sem dúvida, meu anjo  da   guarda  deve  ter  passado um grande  sufoco  para  me  proteger.

Bom, mas pra vocês não pensarem que tudo era triste ou misterioso, como eu já relatei antes, o clima das filmagem era de muita ternura e amor, que eu e Durval estávamos sentindo um pelo outro,  era tão intenso que transcendia  além de  nós, por isso a tristeza não tinha chance de se instala.

E onde tem gente reunida,  claro que também acontece coisas engraçadas, e uma dela é até pitoresca e que só poderia acontecer  no Rio Grande do Sul. O Durval precisava de índios para as cena de luta, das quais o Pedro Missioneiro ( Gerando Del Rey) fazia parte. Bom, para começar, não  havia  tanto  índio. Então, o Exército  cedeu  os  recrutas, que obviamente  precisavam  ser caracterizados. Primeira  coisa  que o Durval  explicou: além de  usar peruca com cabelo comprido, tinham que se raspar tudo incluindo as  pernas. Foi uma chiadeira  geral e começaram a reclamar para parar ” O  Dr. ..Dr isto não é coisa de macho”.

Outro episódio,   igualmente  engraçado,   foi na cena de batalha quando  levavam um tiro  e  tinham  que  cair  mortos. Aí sim ficaram injuriados   de  verdade. “ gaúcho  não cai  do cavalo ché” diziam. A cena  ficou engraçada,  tinha  gaúcho  morto  que não caiu do  cavalo de jeito nenhum. O  Durval  teve  que  ter  muita  paciência  para convencê-los de que morto  cai,  não  fica pendurado  no  cavalo,  até  que finalmente  concordaram  e a cena foi  feita  do jeito  que  o  diretor  queria . 

Rossana Ghessa

Atriz e produtora de Cinema e teatro

Contato: focuslife@playtac.com

 http://rossanaghessa.blogspot.com.br/2013/07/luciola-e-o-palacio.html

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  • marcelo guimaraes cordeiro

    rossana ghessa, e um atriz que da seu sangue e alma para interpretar um bom personagem, ela supera qualquer barreira, e uma verdadeira joia rara..........

  • marcelo guimaraes cordeiro

    rossana ghessa, e um atriz que da seu sangue e alma para interpretar um bom personagem, ela supera qualquer barreira, e uma verdadeira joia rara..........