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Meditar ou se divertir? Eis a questão!
10 de julho de 2013

 

            Quando ouço ou vejo qualquer assunto que envolva o ato de meditar, automaticamente penso no meu filho. Já faz alguns meses que o mesmo começou a praticar meditação e melhorou consideravelmente seu humor e equilíbrio. Não entendo quase nada de meditação, mas lá em casa tenho a prova viva de que a coisa funciona.

            Além de receber uma lição diária de disciplina e persistência, também sou obrigada a levar puxões de orelha por não meditar de maneira correta. Eu costumava ficar em silêncio, deitada em minha cama, olhando através da minha janela o balançar das folhas de uma árvore pelo vento. Fazia isso quase todas as noites antes de dormir. Era algo que me acalmava e fazia me sentir em contato com a natureza de alguma forma. Adoro o vento e o balançar do mesmo em qualquer tipo de planta.

            Então veio meu filho num determinado dia me dizendo que isso não era meditação, pois eu precisava estar numa determinada posição, de preferência ouvindo música e prestando atenção à minha respiração. Eu já desanimei... Confesso que se for pra fazer exercício, prefiro algo bem mais agitado. E se for pra relaxar, por favor, não me dê trabalho!

            A vida continuou, o inverno chegou e as folhas se foram. Além do frio que não aprecio, junto veio a correria do trabalho que me deixou sem tempo para sequer pensar em meditar.

            Em busca constante de equilíbrio, o jovem lá em casa, além da meditação também usa incenso, faz terapias alternativas e está sempre envolvido com algo que supostamente o levará a um nível espiritual mais elevado. É de se aplaudir de pé as intenções do menino. Por outro lado, lá estou eu correndo com a minha vida: trabalho, casa, escrever e quase sempre que posso, me divirto!

            Diferentemente do meu filho, que também tem uma vida corrida, no tempo livre que me sobra eu vou ao cinema, discoteca, bar, ..., sempre acompanhada de pelo menos um amigo para falar bobagem e rir do que quer que seja. Se até em casa já é assim, na rua não seria diferente. Outro dia em casa rindo com um amigo das bobagens que dizíamos, convidei meu filho a participar de tão precioso momento, meu descendente recusou, pois ia fazer meditação em seu quarto.

            Ontem, conversando com um profissional de psicologia e parapsicologia, ouvi muitos elogios a respeito da maturidade de meu filho. Contei a este profissional a graça que achava ao chegar em casa e ver um incenso usado na porta do meu quarto todos os dias depois do trabalho. Disse a ele que imaginava meu adolescente fazendo algum tipo de ritual no meu quarto para ver se eu tomo jeito...      

            Eu disse: “Meu filho é tudo de bom, só precisa se divertir mais, interagir com a bagunça e mais risos do dia a dia”. Então ele me respondeu: “Quem disse que ele não está se divertindo? A questão é que ele é tão evoluído que encontra diversão até mesmo na solidão em seu quarto ao meditar.” “Uau...”, eu pensei comigo mesma.

            Meditar não me parece exatamente divertido, apesar de não ter nenhuma dúvida quanto aos seus vários benefícios: educação do estresse e ansiedade, aumento de satisfação e melhor desempenho no ambiente de trabalho; diminuição da insônia e depressão; e tantos outros. Meditar pra mim é como um remédio calmante. Mas a lição que tirei disso tudo tem mais uma vez a ver com as diferenças e o respeito e aceitação à elas.

            Se de um lado eu me divirto conversando, rindo ou dançando, do outro percebo um jovem que se diverte sozinho com sua busca de equilíbrio e autoconhecimento. Se antes achava que ele precisava se divertir mais, agora percebo que diversão não é a mesma coisa pra todo mundo.

Este fato me fez lembrar de certa vez na Alemanha quando conversava com alguns muçulmanos e falávamos sobre o que fazer no tempo livre. Para meu espanto, um dos passeios preferidos daquela cultura era caminhar em cemitérios por se tratar de um lugar tranquilo. Lembro que na época fiquei boquiaberta e nada falei, e demorei a entender.

Se as diferenças entre culturas podem ser tão grandes, entre pessoas do mesmo sangue também. Não só em uma característica, mas em várias.

Se meu filho se diverte meditando, pra mim tudo bem. E se eu me divirto falando e rindo ou dançando, pra ele tudo bem. Esta aceitação recíproca de diferenças é o que nos torna amigos, pois há respeito e aceitação às diferenças. Algo às vezes raro em qualquer família.

Depois de tudo isso, continuo com a certeza de que meditar é preciso, seja por relaxamento, autoconhecimento, seja por diversão. Mas se for pra me divertir, ainda prefiro que seja do meu jeito. Além disso, ainda que só na minha imaginação, já me divirto sozinha com a ideia do meu filho dançando e acendendo incenso na porta do meu quarto pra que talvez eu aprenda a meditar direito ou pra que eu simplesmente tome jeito...

Namastê!

 

CAROLINA VILA NOVA

ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.

Contato: focuslife@playtac.com

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Deixe seu comentário:

  • Horaceni

    É isso ai, valeu.