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Nymph()maniac Vol. II
01 de abril de 2014

 

            Não há dúvida sobre o sucesso do filme NYMPH()MANIAC. Se o primeiro volume só havia sido exibido no Espaço Itaú de Cinema, o volume II se espalhou por vários shoppings de Curitiba. Acabo de voltar do cinema do Shopping Estação, onde me senti incomodada quase que o filme inteiro com a entrada de adolescentes durante a exibição do filme. Estava claro: os jovens queriam ver as cenas de sexo explícito. E viram! E riram. E conversaram. Foi uma chatice. Desorganização total e falta de estrutura do local para estrear tal filme.

            Interrupções à parte, afirmo que o volume II está ainda mais forte e intenso do que o primeiro. Apesar de uma quantidade bem menor de cenas de sexo explícito, a sexualidade está retratada no enredo de forma ainda mais profunda. Nas perversões que substituem ou complementam o sexo, na busca desenfreada da personagem em sentir prazer novamente com sua sexualidade. Uma busca incessante pela capacidade de atingir o clímax.

            Joe está mais uma vez com seu novo e recente amigo Seligman. Porém, as revelações neste volume são de muito maior importância, pois envolvem terceiros, sentimentos e responsabilidades bem mais cobradas em nossa sociedade. Tais revelações nos levam a reflexões ainda mais intensas sobre a vida e sobre o ser humano. Afinal quem é o próximo na sua mais profunda intimidade? Como encara o outro a sua sexualidade? O que ele faz entre quatro paredes? Sozinho, a dois ou a quantos? Se eu já não sabia quem eu era quando entrei naquele cinema, na saída soube menos ainda. Esta é a maior graça da história toda. A infinidade e intensidade de reflexões interiores às quais o filme nos leva.

  

            É fácil viver numa sociedade e interpretar um papel para os demais. Mas a sua intimidade quase ninguém expõe, quase ninguém conta. Os desejos mais secretos, as perversões obscuras, não aceitas pelos moralistas de plantão. E convenhamos, geralmente são os moralistas e comportados que escondem os mais terríveis segredos e desejos, julgando o comportamento alheio para esconder o que pensam e sentem de verdade.

            A dura realidade sobre nós mesmos é que nem nós, podemos nos descrever por inteiro. Seres humanos frágeis, quebra-cabeças ambulantes, que se montam e desmontam no decorrer de vidas inteiras e nunca se completam.

            Para mim a melhor parte do filme foi quase no final, quando o amigo de Joe, Seligman, a defende de seu próprio comportamento, colocando figuradamente um homem em seu lugar. Joe, que se sentiu culpada a vida inteira pelo vício que não a permitiu uma vida normal, feliz e de acordo com os padrões. Mas Seligman ressalta o fato de que se fosse um homem em seu lugar, ninguém na sociedade o julgaria. Correto. Fim de papo.

            A pior parte foi o final, o qual me recuso a contar. Ao mesmo tempo em que parece óbvio, é também uma surpresa pelo que se espera dele. O óbvio é o que o filme mostra desde o volume I: sexo é sexo em qualquer lugar do mundo, com qualquer um, em qualquer hora, nos domina e nos subjuga a força que ele exerce sobre nossa natureza humana. E a surpresa é que o que se esperava para a pobre personagem não acontece: que ela estivesse errada sobre o que pensa e o que espera das pessoas. E no fim das contas, ela estava certa mais uma vez.

 

            Se agradando ou não do final, o filme vale a pena para quem está disposto a entrar numa sala de cinema, para ver o humano e emocional por trás do sexo doentio. A luta contra a própria natureza, a culpa e a dor que se carrega numa vida, que por fim se torna miserável e ao mesmo tempo íntegra, pela honestidade que a personagem carrega sobre ser quem ela é sem máscaras.

Para mim, só uma palavra: sensacional!

 

CAROLINA VILA NOVA

ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.

Contato: focuslife@playtac.com

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