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O aniversário do meu filho
31 de outubro de 2013

 

Meu filho é uma figura. Sempre foi. Desde criança tinha já uma personalidade e tanto. Gostava de brincar no seu canto e sabia curtir muito bem seu mundo sozinho. Adorava carrinhos e bonequinhos de luta. Certa vez, segundo ele, o gato ganhou uma das lutas contra um de seus “Power Rangers”. Eu só não sei como.

Gabriel sempre pareceu mais maduro do que sua idade, isto nunca mudou. Se quando criança impressionava com suas frases, hoje impressiona com suas atitudes. Lá pelos seus quatro anos de idade, eu acabara de mudar de emprego, e o moleque satisfeito com o fato de que eu voltara a almoçar em casa, me disse: “Assim que eu gosto que você trabalha, mamãe. Não precisa ganhar um montão de dinheiro. Pode ganhar um pouco só e ficar em casa pra almoçar”. Lembro que meus olhos lacrimejaram e meu sorriso cresceu de uma orelha à outra.

Nesses dezenove anos, ele não me deu tanto trabalho. Muito provavelmente porque eu não quis ver certas coisas, como o fato de que ele era bastante autoritário com as primas. Fato que agora elas me contam incessantemente.

Inteligente, sempre foi bem na escola, até mesmo na Alemanha, enquanto eu me matava pra aprender alemão, ele já esbanjava seu talento com idiomas. Na minha memória, o pior que ele fez foi aos cinco anos de idade, quando pegou uma faca de cozinha pra ir matar o amiguinho no apartamento acima do nosso, na cidade de Sorocaba. Felizmente a babá viu e o Thales está vivo até hoje.

Não sei quantas coleções de figurinhas foram, nem quantas bolas, episódios da “Xena, a princesa Guerreira” ou do “Hércules”. Só sei que amor maior não há. Por mais histórias que eu me recorde ou fotos que eu reveja, nada pode expressar toda a vida e importância deste que me acompanha há quase duas décadas.

Não foram dezenove anos fáceis, nem pra mim e nem pra ele. Mas independente de como tenha sido, desde cedo nos tornamos amigos, como mãe e filho. Mais tarde, nos tornamos amigos de verdade: cúmplices, apoiadores leais um do outro, seja na bagunça, seja no tormento.

Dizem que filho de peixe, peixinho é. Não sei. Somos bem diferentes.

Carolina Vila Nova e o filho

Eu sou falante, extrovertida, doida varrida. Curto a vida sem pensar muito. Gosto do incerto e do espontâneo.

Gabriel é meio introvertido, sério, maduro como o que. Leva uma vida calma, sossegada, zen mesmo. Gosta das coisas mais certas e planejadas.

Mas com toda diferença que existe, aprendemos um com o outro, conscientes, tanto das diferenças quanto do aprendizado que nos é proporcionado diariamente nestas divergências. Gosto de dizer que Gabriel é meu fã número 1. Foi o primeiro a ler meus livros. E neste sentido Gabriel virou peixinho. Ele não publicou, mas escreveu seu primeiro livro aos dezesseis anos de idade. Massa!

Neste aniversário eu sabia exatamente o que dar de presente pra ele: uma estadia num Spa Espiritual. A cara da figura.

Hoje Gabriel faz dezenove anos e já age com maturidade que muitos de trinta nem sonham em ter. Há dezenove anos, eu tinha dezenove anos e onze dias. Não foi fácil ser mãe tão jovem. E muitas vezes Gabriel pareceu mais um pai do que um filho.

Sinceramente eu não penso no que fiz pelo meu filho, nem acho que fiz muito, mas penso em tudo que ele fez por mim só com sua simples existência. As diferenças que me fizeram pensar e aceitar o que não era eu. O amor que me fez mais forte. E a amizade hoje que me mantem em pé nas piores situações. Haja o que houver ele esta lá. E vice versa.

Mas uma característica muito forte do Gabriel é o senso de justiça. O preto no branco. Desde criança não aceita injustiça ou algo nem “meio” errado. Aos sete anos, a mania de coleções era um prato cheio para os supermercados. Na época era a fase dos Tazzos nos salgadinhos. Tínhamos acabado de voltar do supermercado e o salgadinho não tinha dentro do saco o Tazzo prometido. O menino queria voltar ao mercado reclamar. Eu enrolei: _ “Depois da novela eu vou”. Pouco depois a empregada da casa chega e avisa: _ “Carolina, seu filho está lá no telefone falando com alguém do 0800 que ele achou no salgadinho, reclamando do Tazzo”. Eu ri. E por dentro eu dizia ao mesmo tempo: _” Maldito Tazzo”. Fui obrigada a ir ao supermercado. A argumentação foi boa. Gabriel ganhou do Cofesa (mercado da minha cidade natal) um saco contendo dez pacotes de salgadinhos. Do Cofesa ganhou 9 Tazzos a mais. De mim, admiração. Da vida, nota 10!

Parabéns filho!

CAROLINA VILA NOVA

ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.

Contato: focuslife@playtac.com

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