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O corpo
16 de outubro de 2013

Stress. Parece que não me entendo mais com meu corpo. O cabelo que não para de cair, unhas que quebram e fome que não passa. Sofro de insônia. E ainda assim, sinto imensa alegria ao levantar. Dias estafantes, mas que no fundo satisfazem minha alma. Alma inquieta que curte um stress e não suporta monotonia.

Fujo de regras e mesmices. Adoro o inesperado, o fugir à regra. Se conheço alguém que gosta de espontaneidade e mudanças, esse alguém sou eu mesma.

Se positividade e força do pensamento geram mesmo resultado, alguém se esqueceu de avisar meu corpo para que ele aja de acordo. Trabalho dez horas por dia. Às vezes somado à mais uma hora e meia, quando não vou para a academia, ou saio para uma farra. No fim, por mim assim posicionado, resolvo questões domésticas. Só em último caso, vou dormir.

Um dos meus principais propósitos ao praticar atividade física é ter disposição para mais atividades e menos descansos. Não que não goste de descansar, mas hoje eu gosto tanto de viver, que faltam horas nos meus dias. Não desejo diminuir meu trabalho, gosto do que faço. Porém quero trabalhar em outros projetos. E espero ainda me divertir mais e me cuidar mais.

Tão injusto esse passar do tempo, quando a alma já aprendeu a apreciar a vida com mais intensidade e entendimento. O que dizer do corpo, aquele que cansa e desiste primeiro? Porque ele precisa dormir? Porque às vezes adoece? Porque afinal se esgota?

Sinto que tenho uma saúde de ferro. E resistência tão incrível à dor, que quando a sinto, tenho que ir às pressas ao médico que for, porque em mim quando dói, já é sinal de gravidade.

Acho que minha alma é tão teimosa em viver, que ignora as primeiras dores e os primeiros cansaços. Só não a ordem do tempo. Afinal tenho que aceitar que um corpo de trinta e sete não acompanha uma mente de ora vinte, ora quinze anos de idade. Apesar da minha maturidade não ser infantil, de certa forma ainda vivo como tal: no desejar e fazer; no não pensar, mas agir.

Me incomoda o sono; o esgotamento físico que não me permite mais um “happy hour”, mais um bate-papo, mais um texto escrito ou até mesmo só mais um filme assistido. Minha ânsia de viver e de experimentar é tamanha, que custo a aceitar as limitações naturais do corpo.

Porque aprender e entender tanto, e depois precisar dormir? Descansar? Porque não podemos trabalhar o dia inteiro? E dançar noite afora sem descanso? Porque a vida, tão linda em seus altos e baixos, tão harmoniosa em seus desencontros, não nos permite colocar em prática a sabedoria que nos traz depois dos sofrimentos?

Pois se tenho esse desejo intenso de vida hoje, que se saiba: foi do já ter sofrido. Se amo tanto, foi pela falta de amor que um dia tive. Se falo muito é porque já experimentei a dor do silêncio. Se escrevo, é porque entendi as palavras. Sinto-me bem porque já me senti mal. Quero viver, porque já senti não ter vivido.

Com o tempo eu aprendi. Aprendi a viver, aprendi a gostar de cada momento, de cada pessoa e até de cada dor nas contrariedades em meu caminho. Aprendi a aceitar, às vezes calar e a não me opor mais à tudo e nem a todos. Nem sempre adianta, nem sempre vale a pena.

Sinto que aprendi tanto, mas tanto, que chega a não caber em mim mesma. Me pergunto quantas Carolinas serão necessárias para colocar em prática tudo o que aprendi.

Vida linda que ensina. Sabedoria que vem com o tempo.

Alma que se indigna com a contrariedade da natureza: o envelhecer do corpo, ainda que a alma rejuvenesça.

Estranha, inquestionável e injusta lei da vida.

Mas não se diz que a natureza sempre encontra seus meios?

Meu corpo há de encontrar o seu.

Em mim, quem manda é a alma.

CAROLINA VILA NOVA

ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.

Contato: focuslife@playtac.com

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