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O menino que não acreditava no amor
14 de dezembro de 2013

 

            Depois de tantos anos eu senti que finalmente tinha encontrado o amor. Diferente de tanto que já havia esperado antes, esse amor parecia bem simples. Leve. Talvez exatamente como devesse ser. Ocorreu de forma inesperada. Alguém inesperado. Mas ao mesmo tempo natural. Simplesmente aconteceu.

            Não sinto que tenho muitas histórias pra contar, até porque foi pouco tempo. Bem menos do que eu gostaria que tivesse sido. Bem menos do que parecia que seria.

            Com toda a diferença de idade, de paixões e ideais, lá estava ela: a afinidade. No olhar, no sentir, no tocar das mãos. Tudo tão sincronizado que parecia algo de outras vidas. Será? Se fosse não teria acabado assim.

            O menino loiro de olhos azuis tinha suas peculiaridades. Além daquele tipo de beleza perfeita que fere os olhos alheios, a inteligência divertida ao falar e no se expressar. Sotaque gostoso que não sei identificar bem ao certo de onde vem. Sorriso de menino, atitudes de homem. Andava sempre com um guarda-chuva enorme, azul escuro e xadrez, pelo menos era o que me parecia, porque nunca vi aquela coisa aberta. Tão jovem e uma postura de senhor portando tal objeto.

            Apesar da beleza que me toca os pontos mais profundos da alma, não foram só seus olhos que me conquistaram, mas o carinho intenso e sincero que eu recebia todas as vezes em que estava com o menino. Às vezes era tanto que eu nem sabia lidar com aquilo. O excesso de beijos por todo o meu rosto em momentos que eu queria dormir. Jamais diria uma palavra. Fosse o sono que fosse. Não interromperia tamanha manifestação de carinho. Corpos tão entrelaçados que pareciam um só. Como nunca havia conhecido antes. Olhares fixos por minutos a fio, em momentos de silêncio e outros, nem tanto.

            Apesar da dor que sinto agora em meu peito e das lágrimas que caem, acho divertido lembrar o quanto sorria ao ouvir o menino dizer que não acreditava no amor. Eu nunca respondi. Sorria honestamente achando graça de sua afirmativa, quando todo seu corpo e todos os seus gestos gritavam um “Eu te amo” tão alto, que era impossível não ouvir.

            Aprendi com o menino que amor não precisa vir em palavras. Nunca precisei delas enquanto estive com ele. Senti seu amor em cada olhar, cada sorriso, cada gesto dele. Senti seu amor ao saber de seus ataques de sonambulismo procurando por mim nas madrugadas. No tesão que a saudade criava. Senti seu amor sendo banhada como nunca havia sido em minha vida adulta. No riso, no sorriso, mas principalmente em seu olhar. Aqueles olhos azuis claros que teimam em olhar pra mim, mesmo não estando mais aqui.

            Era engraçado ouvir o menino dizendo que não acreditava no amor. Eu o assistia como a um filme. Achava linda sua inocência de menino, vivendo um amor tão pleno, afirmando não acreditar no que já era tão visível. Na verdade assistia a tudo: seus olhos viraram meu canal preferido. Seus lábios. E até o seu silêncio era a minha música favorita. O amor veio em todos os momentos. Estava lá, tão vivo quanto esta dor que me impede de dormir agora, junto com um choro alto que há tempo não ouvia.

            O amor era tão bom e era tanto, que eu quis mais. “Mais” não foi possível.

            Doeu ouvir meu próprio choro. Doído e triste. Não sei quantos dias ainda vai doer. Quantos dias pra esquecer. Mas apesar de toda dor ainda aqui, posso dizer que amei. Amei intensamente.  E me senti viva. Amada por alguém que dizia não acreditar naquilo que mais tinha. Amor...

            O menino não acreditava no amor, mas assim me chamava.

            Menino egoísta. Hoje foi embora, levando de mim seus olhos e todo aquele amor, que já era tão meu.

            Amor de menino.

 

CAROLINA VILA NOVA

ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.

Contato: focuslife@playtac.com

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