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Para onde ir
21 de junho de 2014

"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. "

Rubem Alves

 

Numa dada ocasião da vida, descobrimos que nem todas as batalhas nos pertencem. É impossível mudar o mundo inteiro diante das nossas concepções. Certos os errados. Convictos ou duvidosos das nossas posições afetivas, sociais, políticas e familiares. Singramos no pantanoso caminho das dúvidas sobre nossas derrotas e vitórias.

Escolhemos o que vestir e o que estudar. Selecionamos os melhores textos e por vezes as piores crônicas para construir a cultura que se assenta também sobre nossas preferências alimentares, profissionais e de indumentárias. Somos um contexto de definições que deveriam culminar para os nossos brindes de sucesso.

Os demônios do passado não dão descanso ao cronológico presente. Os erros se repetem no vento das definições. O medo nos assola em qualquer conjugação verbal ou temporal. No dicionário particular que nos tangencia escolhemos nossos sinônimos, antônimos e adjetivos construindo nossas frases, histórias e mentiras corrosivas.

Quantas iras refreadas na cápsula de um medicamento ou na internação hospitalar. Adoecemos pelas promessas que descumprimos ou pela angústia das satisfações alheias. Restamos escravos das expectativas de futuro e enraizados pelo passado imutável. Como definir a nossa melhor fotografia para que possamos reconhecer a nossa face evasiva.

O retrato de nós mesmos ou as identidades que são impressas na nossa pele com a nossa anuência fastidiosa. Nossas vontades modificadas pelos olhares de reprovação. Contrariados, mas obedientes modificamos os nossos desídios na expectativa de que a paz ocupe o vazio de nossas almas. Na paz que merecem aqueles que buscam a felicidade sem o devido encontro.

Desacostumados das pequenas felicidades, escolhemos amigos ruins, relacionamentos opressores e enganos contínuos. A confiança e a carência corrompem nossa inteligência. Mascaramos a nossa essência e atraímos o que nos consome e destrói. Num dado tempo é muito tarde para confessar os erros e assustador tomar então um novo caminho.

Como eu poderia dar aos meus filhos aquilo que nunca recebi dos meus pais. Meus avós por sua vez são eternizados em sua candura. Cada travessura recebia um afago e uma recomendação. Com isso aprendi valores que perfumam a minha alma mesmo com o transcorrer da vida fétida de corrupções e invejas.

Procuro caminhos afáveis. Quando ousei confiar nas vicissitudes ambivalentes. Notei paulatinamente que as intenções estavam travestidas de significados comezinhos. Eu desejava afetos enquanto na ponta da mesa dominical os demais ansiavam por vantagens. A solidão foi incorporada como escudo. Nas lágrimas de decepção não lamentei o adeus repetício...

Desatar os nós. Abandonar as âncoras que nos prendem aos mares de infelicidade. As águas mais calmas são aquelas que detêm os maiores perigos. Sobrevivi antevendo a necessidade das aparências. No entanto quando careci de sanidade não reconhecia minha vida sufocada por vontades que não eram minha e percebi que era necessário revisar o armário e as malas.

Para onde ir. Essa é a incógnita que avança sobre nossa indecisão. As raízes da permanência, da responsabilidade e do medo se entrelaçam no coração que está suplantado pelo que desejava conhecer e não foi capaz de sentir. Os romancistas prometem um Eldorado. Mas minha alma se recusa a amealhar as moedas. Eu as despejei na Fontana de Trevi uma por uma.

A bagagem necessária está no meu peito. Afinal, não sou velha demais para recomeçar. A juventude deixada nas fotografias não revelam a felicidade que eu imaginava ter sentido. Percebi um fantoche bem apresentado. Seviciado pela vontade de seu manipulador. Um vazio consumiu minha vontade, pois não aprendi a coordená-la sozinha.

Um lar é necessário. Estou cansada de habitar as casas e as janelas da minha ilusão. Há uma saudade avassaladora da menina que abandonei e que visita meus sonhos. A infelicidade sobrevive na decrepitude da coragem. Tememos errar, magoar e ter uma sombra de aparência infiel. No entanto sempre traídos aprendemos que é preciso romper os laços e partir...

 

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

Contatos: 

taisprof@hotmail.com

  focuslife@playtac.com

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LITERATURA e POESIA
Os caminhos da imaginação pela Escrita

Deixe seu comentário:

  • Giuliana

    Extremo!!!! Maravilhoso!!!!!

  • Raphaella Martins

    Fabuloso. Textos sempre inspiradores! Parabéns.

  • Marcos Castilhos

    Magnífico texto como tudo que você escreve. Parabéns