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Por outros braços...
11 de julho de 2013

"É sempre assim. Morre-se. Não se compreende nada. Nunca se tem tempo de aprender. Envolvem-nos no jogo. Ensinam-nos as regras e à primeira falta matam-nos. "

Ernest Hemingway

 

O desafio de amar. A perseverança na busca por outros oceanos com águas compatíveis com as nossas. Algumas frias como o Adriático e outras confortáveis como o Atlântico. A fronteira entre o que desejamos e as filigranas emocionais que realmente nos pertencem. Um mistério infindável para corações curiosos.

As emoções que transitam entre a tristeza e a conquista. Mas há troféus que não valem um espaço na estante da sala principal. Uma vitória pífia por contar o tempo em meses através de amores que não permanecem. E muito menos que efêmeros, mas sim flutuantes entre a realidade e as ilusões que criamos no seu contexto.

A busca por um mundo emocional equilibrado. Duradouro. Propicia alguns enganos. Os filmes românticos nos induzem para cenários magníficos. Pessoas perfeitas e histórias que se distanciam das Giulietas possíveis. O veneno e o antídoto que sorvemos é o tempo presente e passado. Na busca sedente por um futuro que possa ser brindado.

Quantas promessas fugazes e flores sem nenhum valor. Aniversários de casamentos que sequer deveriam ter ocorrido. Condenamos e privamos nossa alma das emoções verdadeiras em troca de fúteis conveniências. E protelamos uma mera carta de despedida num romance corrompido pela amargura atemporal.

Nossos infernos dantescos não se posicionam no adeus. Mas no até breve incessante. No retorno de quem nunca partiu e na aliança que mesmo retirada do dedo deixa a sua marca quase indelével no dedo e na memória. Como desfazer o que não pode ser desfeito. Na eternidade do sim. Um não ecoa quando a entrega era uma lenda e não uma realidade.

Quem mergulha nas histórias abertas não tem garantias de sobrevivência. Um ponto final pode ser feliz ou condenável - diante do prisma do personagem que decidimos encenar. Gosto de rever as fotografias antigas. Nelas encontro mentiras e verdades inúteis que se prestam a formar nosso convencimento - sobre quem somos e sobre quem os outros não são...

O espelho e as fotografias nos trazem um desafio complexo. Seria possível reconhecer quem realmente amamos e aqueles que imaginamos amar? Quais as verdades incrustadas em papel filme ou em nosso melhor espelho residencial? Por vezes condenamos bocas suaves e cheias de mentiras. Esquecendo que em algum vértice temporal mentimos para nós mesmos...

As intermitências da morte como escreveu Saramago. Desejamos ardorosamente conhecer os nossos amores similarmente às imagens no espelho. E na ambivalência das nossas caricaturas passadas e presentes nos confundimos sobre quem fomos e quem ainda somos. Na simples constatação de que desejamos a felicidade como uma planta na sala central. Viva e inútil.

Queremos a fidelidade que não ofertamos. Simbolicamente nos despedimos dos nossos verdadeiros anseios em busca de conveniências. Questionáveis. Mas ainda assim corrompemos nosso querer em busca do prazer. Sem a preocupação de acertar ou errar – evitando o simples aborrecimento por ser questionado em nossas misérias emocionais.

É preciso coragem para desfazer laços e criar novos ambientes de afeto. Nem sempre o que parece feliz é confiável. Há um abismo entre marketing pessoal e afeto sincero. Pela mão conduzimos nossos anseios e por vezes somos esmagados por aquilo quem um dia muito desejamos, mas que não somos capazes de manter.

Não queremos novos jogos. Preferimos novas regras. Mesmo que elas nos imprimam dissabores e angústias. Afinal é preciso que almas sombrias nos acolham e se instalem em nossa caminhada. Assim a luz frágil dos nossos desejos vai esmaecendo e podemos culpar o convidado pelo infortúnio da nossa festa desastrosa.

Inúmeras vezes voltamos para casa. Uma semana infindável de desafios. Medos e promessas.  Dormimos nos braços de alguém que pensamos conhecer. Acordamos desconhecendo a nós mesmos. A mudança nem sempre é breve. Afinal reconhecer os erros e mudar a navegação do nosso tempo emocional não é uma tarefa singela.

De outro vértice nos condenamos e aplicamos uma pena cruel para quem sucumbe conosco. A infelicidade é também um vício. Sem tratamento avança sobre os nossos olhos – um dia  juvenis. Rouba seu brilho. E quando tardiamente nos damos conta da ausência de luz – somos a escuridão envolta em nossos sonhos imaculados de fôlego e pele.

Reconquistar o amor enquanto ele ainda existir. Permitir a partida quando não for possível respirar. Entender quando uma perda é deveras irreparável. Pedir perdão quando os lábios anseiam por um beijo. Permitir um abraço emocionado todas as manhãs ou garantir um único aceno quando for necessário entregar o corpo e a alma para outros braços...

 

Taís Martins

Escritora, MsC, e professora.

Contato:  taisprof@hotmail.com

              focuslife@playtac.com

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Deixe seu comentário:

  • Vanessa Ristow

    O amor um sentimento que nos torna sábios e ignorantes em uma fração de segundos. Lançamos-nos em aventuras inigualáveis, transpomos barreiras inatingíveis, suportamos dores e dissabores jamais imaginados, porém não deixamos de buscar o Amor.

  • Marcia Jakeline

    Perfeito...

  • Maria Helena Martins

    ...sempre gratificante e agradável ler seus lindos contos Tais.