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Uma viagem logo ali, para dentro de mim mesma
23 de dezembro de 2013

 

            Aos 38 anos de idade, percebo que já fiz quase tudo que a maioria das pessoas sonham fazer em suas vidas como um ideal de realização ou felicidade. Já fui casada duas vezes e sou mãe de um adolescente de 19 anos. Morei na Alemanha durante seis anos e conheci mais de vinte países, dentro e fora da Europa. Falo quatro idiomas, sou formada e hoje trabalho numa multinacional. Também sou escritora e roteirista. Além de modelo fotográfico.

Não venho aqui escrever sobre nenhuma das viagens que fiz fora do país. Apesar de ter gostado de todas elas, nenhuma delas foi a melhor viagem da minha vida.

Há dois anos, voltei a morar no Brasil, mais especificamente na cidade de Curitiba. Desde que cheguei aqui, usei meu tempo tentando me sentir bem na cidade, buscando trabalho, amigos e vida social. Fiquei um bom tempo sem fazer qualquer viagem que não fosse apenas à minha cidade natal.

Dei-me conta de que tinha estado tanto tempo fora de meu habitat natural, que simplesmente nem me interessava sair de perto dele. Porém com o tempo, minha vida deu mais uma de suas extraordinárias guinadas, mudando tanta coisa em meu ser e em meu dia-a-dia, que recentemente senti vontade de voltar a viajar.

A verdade é que muito mais que minha vida, quem mudou mesmo fui eu, agora mais forte, mais intensa e cheia de vida. Madura.

Meu maior privilégio não é simplesmente ter vivido o que eu vivi, mas saber através de toda essa experiência, que o que trás felicidade não é o lugar onde eu vivo, com quem eu vivo ou ainda recebendo o amor de alguém. Tenho conhecimento de causa, que ser feliz também não está conectado ao fato de viajar ou não. Tudo pode ser motivo de alegria, mas antes disso tudo, entendi algo muito maior e mais importante: o aceitar e amar a mim mesma antes de qualquer outra coisa.

Durante grande parte de minha vida tentei, sem me dar conta, agradar as pessoas à minha volta, tentando ser um pouco do que elas esperavam que eu fosse. Em vão, porque nunca consegui satisfazê-las, tão pouco, a mim mesma. Depois disso, tentei me adaptar a uma vida que não era minha, numa cultura e num país que não eram meus. Também não fui bem sucedida nesta tentativa.

O sofrimento que acumulei em todos esses anos, andando por caminhos tortuosos, me trouxeram ao menos a clareza e sabedoria de viajar para dentro de mim mesma, revendo os meus próprios conceitos, sentimentos e histórias. Concluí que já era tempo de ser fiel e leal à minha pessoa, obedecendo somente aos meus desejos, às minhas crenças e vontades, independente do que elas fossem.

Meus caminhos deixaram de ser tortuosos. Tornaram-se uma linha reta, clara, com um gramado verde e fofo, fácil e gostoso de se pisar. Vez ou outra até chove, mas ainda assim, foi o melhor caminho que encontrei em meu trajeto.

Já por este novo caminho, de bem comigo mesma, decidi viajar para uma praia perto de Curitiba. Muito bem acompanhada de mim mesma, diga-se de passagem, minha melhor companhia e de um novo amor, desci para uma pousada especial à beira mar de Caiobá.

A pousada, outrora uma casa de praia de família, tinha decoração de extremo bom gosto, refinada em seus mínimos detalhes, com o charme e aconchego que só uma casa é capaz de proporcionar.

Logo de cara eu e meu namorado não resistimos e fomos matar a saudade do velho mar. E lá estava ele, bravo, conturbado em suas ondas fortes que premeditavam uma forte tempestade. Eu não sei quantos anos fazia, mas entrar no mar depois de tanto tempo, parecia uma primeira vez.

A fúria das ondas, apesar de assustar, preenchia um vazio que tinha ficado em minha alma, os tantos anos longe de um mar que eu considerava tão meu. Dos tantos países que conheci, nenhum tinha praias tão lindas e extensas como as do Brasil.

A noite foi regada a champanhe e a um drink carinhosamente chamado de “Hurricane” pelo dono da pousada.  E não foi só champanhe. Foi paixão, tesão, risos, vida na sua melhor forma: viva, imediata, feita de momentos!

A viagem foi curta. Dois dias com chuva, mas com um amor por mim mesma, tão verdadeiro, que ainda que estivesse sozinha teria me divertido. Com meu “Chandon” e minhas incontáveis palavras escritas e faladas, acompanhas de risos e sorrisos. A chuva caiu como música para o dançar de meu corpo e o de mais alguém.

Depois de tanto tempo, finalmente entendi que o viajar pra qualquer lugar só fez mesmo sentido, depois da viagem feita para dentro de mim mesma, com todos os mapas da minha alma.

Não tenho mais a ilusão de que há um paraíso em algum lugar neste planeta, onde devo ir e me sentir então feliz por completa. Hoje eu sei que o paraíso sou eu, porque quem o faz sou eu mesma.

Já conheci praias da Grécia, Turquia, da Espanha e da Itália. Até da Dinamarca. Mas foi em Caiobá, logo ali, que eu me senti viva de verdade, amada, desejada e querida. Por mim! Mais profunda viagem não há!

CAROLINA VILA NOVA

ESCRITORA E ROTEIRISTA, de Curitiba.

Contato: focuslife@playtac.com

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